sexta-feira, 16 de julho de 2010

Russet Noon - Capítulo 06: Viagem ao Mundo dos Espíritos {Parte 3}

Minha mente ficou em branco com o choque, e eu reagi automaticamente. Fora de reflexo e sem pensar, cheguei à sala tão rápido, que foi como se tivesse me teletransportado para lá. Ainda em negação, senti que havia me transformado numa pedra enquanto eu olhava para Sam. Tive que vê-lo com meus próprios olhos para acreditar.

Encontrei-o ainda deitado no chão, a face para cima, e com as moedas do barqueiro sobre as pálpebras fechadas. Provavelmente, as superstições do ermitão o levaram a colocar as moedas nos olhos de Sam, da mesma forma que, na Idade das Trevas, eles costumavam posicioná-las para manter o espírito errante restante.

Eu poderia dizer que Sam não estava respirando, especialmente depois que notei a cor mortal de seus lábios. O tom pálido e incomum de sua face agora começava a se espalhar por todo seu corpo. Eu nunca tinha visto um irmão do bando morrer, e ainda, só de estar assistindo aquela cena, eu tive certeza de que o ermitão estava certo. Sam estava realmente morto.

Dr. Cullen chegou lá tão rápido quanto eu. Caindo sobre os joelhos, ele pressionou dois de seus dedos no pescoço de Sam para sentir o pulso, eu vi o mesmo olhar de registro de evento em seu rosto. Balançando a cabeça em negação, lançou-me um olhar penetrante que confirmou o que eu já sabia.

Eu tinha deixado Sam morrer.

Odiando-me e desejando estar em seu lugar, desmoronei sobre uma poltrona e cobri o meu rosto para que ninguém visse minhas lágrimas.

Sam Uley, o Alfa do bando, o primeiro da nossa geração a mudar de homem para lobo. O Homem que ajudou cada um de nós a fazer a transição, após ser sido forçado a aprender tudo por conta própria. Ele havia estado lá para nós, durante todo esse tempo, firme e forte, mostrando-nos o modo de mudarmos de forma e ajudando-nos na adaptação às mudanças dolorosas em nossos corpos que vieram com a transformação nas primeiras vezes.

Apesar de nossas divergências, nenhum de nós poderia negar que todos nós o seguíamos. Não importa quantas vezes nos queixamos das decisões dele, no final, ele sempre foi aquele que recorríamos quando não sabíamos o que fazer. Esse era o Sam. Esse era o nosso Sam.

E agora ele se foi. Morto pelo veneno da híbrida. Tudo por causa de minha obstinação egoísta.

A visão de seu corpo enviou-me um arrepio na espinha, senti como se soubesse a vida inteira que eu seria destruído em um instante. Talvez o Dr. Cullen tivesse razão sobre tudo que tinha acabado de me dizer. Se eu tivesse o escutado desde o início, talvez Sam ainda estivesse vivo.

Talvez, de alguma maneira, eu pudesse ter poupado a sua vida. Eu sabia que o veneno de vampiro espalhava-se incrivelmente rápido em um lobisomem. Embora não fôssemos filhos da lua, nossa espécie era inimiga mortal dos vampiros por uma razão muito poderosa. O veneno de vampiro tinha um efeito muito diferente em um lobisomem, quando comparado a humanos.

Para nós ele era letal. Era nossa primeira e única fraqueza, e também, ao mesmo tempo, era o nosso mecanismo de defesa, o mesmo que nos impedia de nos tornarmos vampiros. Nossos poderes de cura nos tornavam imunes ao veneno, o que significa que lobos metamorfos como nós não éramos capazes de nos tornarmos vampiros. Nosso sistema reagia de forma a se fechar ao veneno, nos matando no processo. Pelo menos eu sabia que Sam estava protegido de se tornar um vampiro.

Porém o fato de que Sam estava morto ainda permanecia, e eu não podia fazer nada a respeito, nada para tentar salvá-lo.

Todo esse tempo, eu estive tão focado em resolver meus próprios problemas, que no processo acabei por esquecer de todos os demais. O que aconteceria com Emily agora? Quem iria tomar o lugar de Sam como Alfa do bando? Como eu viajaria para o Mundo dos Espíritos a fim de consultar os Antepassados Lobos?

As perguntas não paravam de chegar à minha cabeça, acumulando-se. Nesse instante, lembrei que Sam era o único capaz de me contar como se viajava em espírito. E agora o segredo tinha morrido com ele. De maneira nenhuma o Velho Quil ou até mesmo meu papai iriam me falar como se viaja ao mundo dos espíritos. Consideravam essa viagem fora de cogitação. Sendo assim, se eu quisesse fazer isso, teria que descobrir sozinho.

Assim que comecei a pensar em quem poderia me ajudar, o ermitão quebrou minha concentração.

“Ele está aqui”, ele sussurrou.

Rapidamente, limpando minhas lágrimas, pulei para cima da poltrona e olhei ao redor confuso. “Quem?”

Percebi que o ermitão era o único presente, já que o Dr. Cullen não estava em nenhuma parte do meu campo de visão.

“Onde está o Dr. Cullen?” perguntei, meu estômago em nós. Dentro de mim, em algum lugar, eu já sabia o que o ermitão ia me dizer, mas eu tinha que ouvi-lo dizer em voz alta.

A resposta que ele me deu doeu tanto, que senti como se alguém tivesse me apunhalado no coração com uma adaga gelada. “Ele partiu”.

Recusando-me a encarar a verdade, eu balancei a cabeça freneticamente e declarei: “Não! Ele ainda está aqui!” Esforcei-me inutilmente para acreditar na minha própria mentira. Mas logo que abri a porta da frente, uma onda de angústia brotou dentro de mim. Ambos os carros dos Cullen, que tinham sido conduzidos de Port Angeles até aqui, tinham desaparecido.

“Mas você disse que ele estava aqui”! Queixei-me ao ermitão assim que voltei para dentro e bati a porta atrás de mim.

“Eu não me referia ao Dr. Cullen “.

Não havia ninguém mais lá. Eu não tinha idéia do que o ermitão estava falando, mas eu também não gostei do tom misterioso de sua voz quando ele disse aquilo. Mais uma vez, me senti tão derrotado e sem esperança, que invejei Sam por estar morto. Ainda assim, eu não quis dizer ao ermitão o que eu realmente pensava dele, porque eu meio que entendia como alguém poderia enlouquecer depois de tudo o que tinha acontecido.

De repente, tive uma sensação estranha, que me mostrou que poderia ter sido precoce em assumir que era loucura o que o ermitão havia me dito. A menos que loucura fosse contagiosa, é claro, eu poderia jurar que alguém, ou algo, estava naquela sala de estar conosco.

Eu nunca tinha experimentado nada parecido com isso, portanto não tinha a que comparar. Tudo o que eu sabia era que o ermitão e eu não estávamos a sós. Eu poderia claramente sentir uma presença, que de alguma forma, tinha deslocado a energia ao nosso redor. Quase senti como se ele quisesse fazer a sua presença notada. O que quer que fosse, ele queria chamar nossa atenção.

“Você também sente isso, não é?” perguntou o ermitão.

Em outras circunstâncias, eu ficaria muito envergonhado em admitir isso em voz alta, mas já que o ermitão era um alquimista imortal e tal, de certo modo me senti à vontade o suficiente para confiar nele.

Engolindo em seco, perguntei-lhe, “Isso é. . . o espírito de Sam?”

“Sim”, respondeu o ermitão como se fosse a coisa mais normal do mundo. “Ele ainda está aqui.”

Só levou um minuto para descobrir o que Sam queria. Ele sabia tão bem quanto eu que a nossa única esperança de derrotar a híbrida seria eu me consultar com os Espíritos Guerreiros. Dessa forma, ele recusou-se a mover-se em direção à luz no final do túnel, assim como devem fazer os espíritos depois da morte de seu corpo físico, apenas para que pudesse me guiar.

Mesmo na morte, Sam era um homem muito melhor do que eu. Ele não só tinha sacrificado a própria vida e sua futura felicidade ao lado de Emily, mas agora, acima de tudo, ele também estava se arriscando a um terrível destino.

Nossos ancestrais haviam nos deixado esta mensagem em nossa mente a partir do momento em que cada um de nós possuísse idade suficiente para compreendê-la. A morte era apenas um ritual de passagem, uma transformação, um novo começo. Qualquer espírito que demorasse ou se recusasse a mover-se em direção à luz no momento da morte poderia acabar preso entre os dois mundos.

De acordo com os ensinamentos ancestrais, esse destino era pior que a morte propriamente dita. Muitas culturas se referiam a esses espíritos presos como espíritos errantes. Almas perdidas que vagavam pela terra por centenas, ou até mesmo, milhares de anos.

Eu não poderia deixar que isso acontecesse com Sam. Eu já o havia deixado morrer, então, agora a minha única chance de me redimir era ter certeza de que ele faria uma passagem segura para a sua pós-vida, onde agora ele pertencia.

Uma parte de mim só queria saltar sobre a moto e ir atrás de Bella. Eu ainda acreditava que eu poderia convencê-la a ficar, para que pudéssemos encontrar Nessie juntos. Porém, no final, suprimi esse meu desejo e acabei por aceitar a decisão do Dr. Cullen sobre o destino de Bella.

“Preciso de sua ajuda”, disse ao ermitão. “Eu preciso que me leve ao lugar mais escondido na floresta que você conhece”

Embora não pudesse ver seu rosto debaixo do capuz, ainda conseguia ouvir o choque em sua voz quando me perguntou: “Pra quê?”

“Eu preciso de um lugar seguro para esconder meu corpo, para que ninguém possa encontrá-lo.”

Agora, provavelmente, ele pensou que eu tinha pirado de vez. “E por que você quer fazer isso, filho?”

“Vou viajar para fora do meu corpo e eu preciso que você me diga como fazer isso.”

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