sábado, 18 de dezembro de 2010

Sol Poente - Capítulo 17: Depressão

"Todos conseguem chorar quando sofrem, mas não eu. Mas acredito que estou sofrendo, muito mesmo." Essas palavras iam e voltavam cada vez mais reais, como se Laurent ainda as estivesse pronunciando.

Não vou gastar muito tempo falando do quão especial ela era para mim, pois isso me traria lembranças ruins. Não pensei em vingança, pois isso não me levaria a lugar algum. Eu apenas pensava em... Nada. A verdade é que, às vezes, pensar em nada é reconfortante.

E ali fiquei; sentada sobre as pedras negras, olhando as ondas se chocarem, fazendo barulho, formando uma espuma branca como nuvens do oceano. Estava ali a uma hora? Um dia? Eu jamais descobriria. Nenhum de meus irmãos soube me dizer, mais tarde, quanto tempo permaneci fora. Foi como se um acontecimento rápido, um instante apenas, fosse capaz de parar o tempo. Talvez nada tenha mudado no dia-a-dia prático, não tenha mudado o passar do tempo, mas como foi dito naquele filme? Ah, sim, "para alguns, o tempo passa rápido, e nunca há tempo suficiente; para outros, o tempo é muito longo. Para os tuck, o tempo não existia". O que seria os tempo?

Enfim, eu fiquei sozinha com meus pensamentos, e com o vento que brincava com meus cachos. Eu sabia a verdade, porém não queria aceitá-la, quanto mais encará-la.

Eu estava só, numa praia estranha, com meus quase 150 anos, brincando com a areia. Apesar da forma jovem, sou velha, como um pergaminho amarelado. Meu coração, que já não bate mais, ficou dolorido - as pessoas deviam ter mais consideração com os idosos, pensei, ironicamente.

* * *

É incrível com o amanhecer é lento, não? É como se um ser sobrenatural convidasse para seu mundo mágico... Enquanto o quadro negro é preenchido pelas cores suaves, os sons mais agradáveis começam. Apenas percebemos o quanto temos a desfrutar quando estamos tristes.

Fui até o corpo, mas em seu lugar haviam pedra, e uma cruz. Alguém a havia enterrado. Sob a cruz, um papel escrito a mão:

"Rosalie,

Minha fuga será em vão, pois temo que James e Victória me achem. Sei como seu coração deverá estar apertado, porém, terei que fazer-lhe mais um pedido: seja fria, paciente, doente e manipuladora caso se encontre, novamente, com esses vampiros que por tanto tempo segui. E fuja. Essa é uma ordem que deverá ser executada assim que terminar de ler. Existem olhos por toda parte, por mais que não sejam vistos. São perigosos, assassinos... Não deixe que essa morte deixe em você um espaço vazio; eu já tento preenchê-lo.

Adeus,

Laurent"

Eu sabia que aquelas palavras haviam sido escritas com mágoa, antes mesmo de perceber o papel enrugado com as lágrimas secas. Antes de obedecer sua ordem, escrevi, com papel e caneta que encontrei:

"Laurent,

O meu coração sempre teve um espaço dedicado a Vera, afinal, ela era única. Com sua morte, o espaço não desapareceu ou se esvaziou, mas ficou repleto de tristeza, saudades, e de lembranças que para sempre serão guardadas. E assim permanecerá, enquanto eu for eterna.

Rose"

Logo desapareci em meio a floresta densa, onde o amanhecer ainda não ousara tocar.

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